BikeA2: vida e cicloturismo

BikeA2 é o nome dado à experiência de um casal que une vida e cicloturismo.

Este é o caso do casal Aline Maria Mafra e Ari Laercio Boheme, ou BikeA2, alusivo também às iniciais de seus nomes. Pedimos uma entrevista a eles e fomos atendidos de imediato com um generoso SIM! Sabemos, pelos contatos que temos em comum, que eles são referência de vida e cicloturismo para muitos outros cicloturistas, como nós, no Brasil e fora dele. Isto muito nos alegra!

Nossa sina é a de contar histórias de personagens e lugares que tenham relação com o Cicloturismo. Melhor ainda quando se trata de pessoas que, se não fosse pelo Cicloturismo, possivelmente não teríamos a chance de te-los como amigos.

Ari e Aline, nosso muito obrigado pelo gesto mais do que carinhoso de aceitarem ceder uma série de entrevistas para o Ciclotur Experience. Vamos lá, pessoal?

Casal BikeA2 – Aline Mafra e Ari Boheme

Ciclotur Experience – Aline e Ari, gostaríamos que mais pessoas pudessem saber um pouco da história pessoal de cada um com a bicicleta. Quando e como foi que cada um de vocês fez a opção pela bike?

BikeA2Quando crianças, como a maioria das pessoas em tenra idade, usávamos a bicicleta como diversão e, também, como meio de locomoção. Depois, as atribulações de uma vida adulta como o estudo e o trabalho, fizeram com que a deixássemos esquecida.

Muito tempo depois, e já como casal, vimos na bicicleta uma forma de concretizarmos um sonho que, de outra forma, nos parecia difícil de realizar: percorrer o mítico Caminho de Compostela, na Espanha. Foi em 2013, somente cinco anos atrás, que compramos duas bicicletas e começamos a pedalar novamente. Primeiramente sozinhos, depois, em um grupo de ciclistas de Florianópolis, o Duas Rodas MTB. Assim, passamos a  fazer pequenas viagens por Santa Catarina, nosso estado natal.

Com isso fomos aprendendo, não somente como pedalar nestas situações, mas como também lidar com questões mecânicas. Estas questões, muitas vezes, precisam ser resolvidas durante uma viagem de bicicleta. Foi assim, então, que conseguimos ter a experiência necessária para, enfim, realizar nosso sonho e nos tornamos cicloturistas.

BikeA2 nos Aparados da Serra

Ciclotur Experience – Um casal que pedala multiplica sua visão de mundo e compartilha suas experiências, de vida e cicloturismo, de forma mais fraterna, pensamos. Como foi começar juntos a viajar a pedal? Quais foram as primeiras cicloviagens?

BikeA2Ambos viajávamos, e muito, por conta de nossas atividades profissionais, de modo convencional, de carro, ônibus e avião. Quando vimos a possibilidade de viajar de bicicleta, simplesmente vislumbramos um mundo totalmente novo, que nos encantou já no primeiro momento.

Sempre pensando no Caminho de Compostela, fizemos uma lista de outros objetivos a cumprir antes de nos aventurarmos em terras espanholas. Precisávamos treinar subir morros carregados, saber se nossas bicicletas e equipamentos eram apropriados, que roupas utilizar, enfim. E, principalmente, praticar o desapego que uma viagem deste tipo pede e aprender a lidar com os limites individuais.

Foi, então, que fizermos alguns percursos da Acolhida da Colônia, como Anitápolis, Santa Rosa de Lima e Leoberto Leal. Percorremos, também, a parte alta do circuito do Vale Europeu e depois, encaramos nossa primeira aventura internacional.

Percorremos a costa do Uruguai, indo do Chuí até Montevidéu. Com estas cicloviagens, nossas experiências foram crescendo, nossa vontade por viagens mais longas foi aumentando. Sentimos que viajar de bicicleta é muito diferente do que viajar de outros modos. Ela nos possibilita uma percepção mais humana dos lugares por onde passamos. Um contato com a natureza e com as pessoas que dificilmente teríamos viajando de outra forma. A bike possui uma velocidade que permite que se observe muito mais o entorno, que se sinta na pele o clima do lugar onde se está. É possível parar para tirar uma foto e ainda conversar com alguém no caminho, coisas que seriam difíceis de realizar, com esta ênfase, de carro ou moto, por exemplo. E com isso, fomos nos apaixonando por esta nova forma de viajar.

Do Chuí a Montevidéu – Uruguai – BikeA2

Ciclotur Experience– Cada novo caminho tem as suas especificidades e dificuldades inerentes. De todas as suas cicloviagens no Brasil, qual a que vocês podem considerar que foi a que exigiu mais do casal e porquê?

BikeA2Olhando para o passado, vemos que a viagem que fizemos pela parte alta do circuito do Circuito Vale Europeu foi a que mais nos exigiu. O local é lindíssimo, bem demarcado, com infraestrutura adequada. Porém, hoje sabemos que escolhemos a época errada para percorrê-lo: entre os feriados de Natal e Ano Novo. Isso porque, neste período, o calor na região é muito intenso.

Chegamos a pegar temperaturas acima de 40 graus, e muitos estabelecimentos comerciais, tais como restaurantes, lanchonetes e até mesmo hotéis, estavam fechados por conta das festas do período.  Isso tudo nos exigiu, não somente preparo físico, mas também emocional para lidar com as dificuldades que se somaram. No fim, tudo deu certo, mas aprendemos bastante com o episódio. Ele nos fortaleceu e deu experiência para as próximas viagens. Tanto que a viagem seguinte, pelo litoral do Uruguai foi perfeita, sem “perrengue” algum.

BikeA2 pelo Caminho de Compostela

Ciclotur Experience – Um dos destinos mais desejados no mundo, para cicloturistas especialmente, é o Caminho de Santiago de Compostela. O próprio nome já diz que não se trata de um ponto de chegada, mas sim de estar no ‘caminho’ para que se confira à experiência de viagem toda uma singularidade. Quais os momentos da cicloviagem pelo Caminho de Santiago de Compostela vocês destacam como sendo os de maiores impactos e que fizeram por onde fixar esta experiência na memória do casal, de vida e cicloturismo?

BikeA2O Caminho de Santiago é mágico, uma experiência única, que estava em nossos pensamentos há muito tempo! Parecia impossível fazermos caminhando, pois, requer no mínimo 30 dias, mas que a bicicleta nos permitiu realizar em 15 dias. Neste período, tivemos momentos especiais, como o início na cidade de Roncesvalles. Lá, dormimos em um convento e acordamos ao som de uma serenata tocada por voluntários holandeses. Passar pelo Alto Del Perdon, visitar as cidades de Burgos e Astorga.

Dormir na cidade de Rabanal Del Camino, onde tivemos o privilégio de assistir uma missa ao estilo medieval, toda em latim, numa igreja também medieval, foi algo sensacional. Além disso, todos os vinhos, queijos, pães e outras comidas típicas da Espanha compõem momentos que não sairão de nossa memória. Além dos lugares que conhecemos, as pessoas com as quais convivemos nestes dias nos mostraram que o mundo pode ser diferente! Que pode nos surpreender a cada dia, nos tornar mais simples e humanos. O bom do Caminho não é só o caminho, mas também as pessoas e as experiências que temos quando estamos abertos para isto.

Agora, nada se compara ao momento de chegada à praça do Obradoiro, frente à Catedral da cidade de Santiago de Compostela, para então participar da Missa do Peregrino, com a benção do Botafumeiro, justamente no dia do aniversário da Aline, foi mágico, inesquecível! Somos muito gratos a tudo que o Caminho nos ensinou e nos proporcionou.

BikeA2 Cicloturismo

Ciclotur Experience– Há pouco vocês regressaram de uma cicloviagem apaixonante até o Fim do Mundo. Gostaríamos de conhecer mais a respeito da preparação do casal para esta grande cicloviagem, sobre a escolha do roteiro de viagem e, ao fim, pedimos uma reflexão sobre cumprir com um sonho tão especial que é chegar, pedalando, a Ushuaia.

BikeA2Desde quando começamos a pensar sobre esta viagem as dúvidas que tínhamos eram enormes. Fomos, portanto, em busca de todas as informações possíveis, logo descobrindo que elas são poucas e que os roteiros possíveis são inúmeros.

Por um tempo isso nos amedrontou e deixamos este roteiro de lado. Neste meio tempo começamos a receber ciclistas em nossa casa através da rede Warmshowers, alguns dos quais vinham de viagens por esta região. Com as experiências de nossos hóspedes e a ajuda de livros e da Internet, fomos nos munindo de coragem para encarar esta aventura.
Ainda sem o roteiro definido, fomos comprando os equipamentos necessários à aventura, o que compreendia alguns ítens que não são tão habituais no Brasil. Dentre eles, sacos de dormir para temperaturas extremas e barracas que resistissem aos famosos ventos patagônicos.

Durante este período de preparação, que foi de dois anos, fizemos várias viagens pela região dos Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, durante o inverno brasileiro, tentando simular algo parecido com o que encontraríamos na Patagônia. 

BikeA2 – Carretera Austral

Além disso, precisávamos aprender a acampar, pois nenhum dos dois tinha experiência alguma neste sentido. Sendo assim, todas estas viagens foram feitas já com o equipamento completo (ou quase) de camping. Muitos destes equipamentos foram aprovados, outros se mostraram aquém do exigido para a empreitada. Foi um período de muito aprendizado, tanto a partir da experiência de nossos hóspedes do Warmshowers como de nossas viagens preparatórias.

BikeA2

Durante todo este período de preparação também devorávamos toda a literatura disponível no Brasil, que é pouca, muito pouca, sobre o assunto. Foi assim que tivemos contato com alguns cicloturistas que, com muita dedicação e amor, se dispõem a compartilhar suas experiências através de blogs, palestras, bate papos, livros e revistas, em particular na Revista Bicicleta. Foi desta forma que conhecemos, mesmo que alguns só virtualmente, o Guilherme Cavallari, o Antônio Olinto e a Rafaela, o Charles Zimmermann, o Danilo Perrotti e o Beto Ambrósio.

Assim, como ocorreu em nossa viagem pelo Caminho de Compostela, chegar ao destino final não é o melhor da viagem, mas todo o caminho é “a viagem”. Começamos a viajar desde o surgimento da ideia, depois, durante a preparação.  Tudo é a viagem: os momentos angustiantes que precedem a partida, o embarque, o início, o meio e o fim. Chegar traz à tona dois sentimentos contraditórios: é ao mesmo tempo um momento de muita alegria, por termos conseguido, mas também de alguma tristeza, por ter terminado.

Mas, como sempre estamos pensando em novas cicloviagens a fazer, assim que terminamos uma já começamos a viajar na próxima!

Casal BikeA2 – Aline Mafra e Ari Boheme

Mais uma vez, agradecemos o carinho especial do Ari e da Aline! Já os temos como nossos parceiros.
Em breve, aqui no Ciclotur Experience, publicaremos mais aventuras deste querido casal e suas bicicletas. Histórias de vida e cicloturismo!

Quem quiser entrar em contato com nossos amigos, acesse: bikea2.wordpress.com

Bom Caminhos a tod@s!