Assim sucedeu com a organização desta viagem. Aproximadamente dois anos antes de pressionar o pedal, tinham vidas comuns, com trabalhos fixos sete dias por semana, com pouco tempo para treinar ou fazer um passeio de bicicleta.
Quase não havia tempo para curtir com amigos e familiares.
A vida cotidiana e o conforto do salário no final do mês os prendiam em uma “zona de conforto” que, em alguns momentos, gerava um medo. Neste medo, as questões de sempre começaram a surgir: Como vamos fazer? Quanto dinheiro precisamos? Onde vamos dormir? Como vamos viver?
Então, esta foi a primeira barreira a ser superada, o que, felizmente, só trouxe grandes aprendizados.
A idéia da viagem, em geral, consistia primeiro em deixar Neuquén, sua cidade de origem, na Argentina, viajar pela Rota Nacional 40, cruzando parte da América do Sul até chegar ao México.
Durante esses dois anos de planejamento Ona apareceu em suas vidas: uma cachorrinha pela qual se apaixonaram à primeira vista e não puderam deixa-la para traz.
Então, Ona foi incluída ao projeto e esta foi a melhor decisão que tomaram.
Ela é a companheira incondicional, guardiã e guia nesta grande cicloaventura. Desta maneira inusitada, este lindo casal de cicloturistas e seu pet estão cruzando a América do Sul!
O primeiro trecho a pedal foi cumprido até Zapala, uma cidade no sopé da cordilheira dos Andes, no centro da província de Neuquén, na Ruta 40.
Lá, sua amiga Bar os encontrou e os alojou em sua casa para dormir a fim de que, no dia seguinte, começassem a cicloviagem.
Organizaram os alforjes, deixaram as bicicletas prontas, comeram e foram para a cama. Ainda assim, ambos lembram de que não puderam fechar os olhos a noite toda por causa do nervosismo e da ansiedade. Coisa de cicloturistas!
Na manhã seguinte, 6 de abril, subiram em suas bicis e saíram, porém, o sentimento era muito estranho, sentiam tudo muito pesado e descontrolado, pensavam que não seriam capazes de pedalar.
Mas, continuaram em frente motivados, com sorrisos gigantes e uma felicidade que gerou adrenalina e endorfina por todo o corpo. Afinal, seu sonho estava em plena marcha, cruzando a América do Sul rumo ao México!!
Com o tempo, se adaptaram até que as bicicletas fossem transformadas em uma parte a mais de seus corpos. E Ona? Seguia firme, contente e companheira!
O plano para o primeiro dia de pedal era alcançar Las Lajas, uma cidade que fica a 60 km de Zapala. Sabiam que havia um camping municipal onde poderiam dormir em paz.
A estrada, até este ponto, era bastante plana e com boas descidas. Deste momento em diante, o trajeto se fez mais duro para eles que recém começavam no mundo das cicloviagens.
Para chegar à próxima cidade, por exemplo, Chos Malal, teríamos 150 km de muitas subidas, vento contrário e, para variar, pouca água. Um grande erro, que perceberam, ao cicloviajar com um cachorro em lugares áridos, muito sol e rios secos, é levar pouca água.
Afortunadamente, acharam um abrigo na metade do caminho em um povoado chamado Chorriaca, onde encontraram uma torneira de água potável, beberam e se abasteceram.
Higienizaram algumas garrafas que estavam por perto, carregaram nelas muita água e seguiram em frente.
Até Chos Malal levaram três dias. Montavam acampamento ao lado da estrada e, de quebra, tiveram céus incríveis.
Viajar de bicicleta abre as portas para um mundo que nunca se têm ideia que se irá conhecer. Renzo e Antonella dizem que aprenderam a curtir o caminho, aproveitando para observar bem a paisagem.
Além disso tudo, ainda estão tendo a oportunidade de se aproximar de pessoas com um coração gigante, como é o caso da generosa Mabel, uma senhora que parou o carro no acostamento para oferecer a eles água. Resultado?
Acabaram por permanecer hospedados na casa de Mabel por três dias.
Da mesma forma, encontraram a hospitalidade cultural de Sabri, que foi a primeira Warmshowers que os recebeu, os três, com lindas vibrações, mates e boa música num dia de muita chuva.
Ao sair de Chos Malal, as subidas ficaram cada vez mais pronunciadas e colocaram à prova seus corpos, desejos e mentes. Felizmente, a paisagem ajudou muito e, avançando pouco a pouco, chegaram à próxima cidade, Butarranquil.
Foi um dia longo, pedalaram por mais de 9 horas e chegaram à cidade ao cair da noite, o que decidiram não fazer novamente.
A amabilidade das pessoas se fez sentir novamente, tanto é que os deixaram dormir no ginásio de esportes. Para Renzo, Antonella e Ona, parecia um hotel cinco estrelas, com chuveiro quente, wifi e calefação.
O que mais poderiam pedir? Até mesmo curtir uma piscina térmica foi possível. Que vida boa!
O próximo destino estava a 30 km, até alcançarem Barrancas, a última cidade da província de Neuquén junto à fronteira com a província de Mendoza. As subidas continuaram, mas já estavam se acostumando. Sabiam que no final do dia valeria a pena tanto esforço e assim, chegaram ao camping da cidade.
Para sua grande surpresa, alguns campistas assadores os receberam com uma saborosa e bem assada perna de cordeiro. Estas são experiências marcantes no dia-a-dia de cicloturistas.
Assim, se despediram de sua amada província e iniciaram uma nova jornada ao entrar em Mendoza, um novo lugar para explorar e aventurar-se no mundo do cicloturismo.
Renzo, Antonella e Ona, neste momento, estão, felizes, cruzando o Peru, passando por Abra Málaga.
Nós, do Ciclotur Experience, agradecemos a generosidade de Renzo, Antonella e Ona em ceder este texto e fotos. Aproveitamos para pedir que quem puder oferecer uma estadia, comida ou um abraço, faça contato com eles e torne esta cicloaventura ainda mais linda.
Estes maravilhosos cicloturistas seguem cruzando a América do Sul, felizes, e assim continuarão.
Porque um sonho, quando se sonha junto, é realidade, diria o sábio Raul Seixas.
Obs: todas as imagens e base de texto foram cedidas por Renzo Scattone e Antonella Santarelli.
Para acompanhar Renzo, Antonella e Ona em sua jornada de aventuras cicloturísticas cruzando a América do Sul, siga:
