Sim, para nós, o cicloturismo é uma aprendizagem constante.
E muito bem-vinda, sempre!
Para muito além do simples ato de viajar, mais que transpor distâncias sobre um bicicleta, mais ainda do que jogar-se em um desafio pessoal.
O cicloturismo resulta em uma experiência de aprendizagem constante, cuja sala de aula não possui paredes e o professor é o próprio caminho.
Muita gente bacana cicloviajando pela América Latina
Assim que, quando decidimos desenvolver uma plataforma que se dedicasse a contemplar fragmentos deste universo das cicloviagens, tivemos sempre em mente que ainda muito pouco se sabe sobre a América Latina. Por mais que existam bons blogs e revistas que falem sobre o tema, mesmo assim, de tão vasta que é a pauta América Latina, precisaríamos de muito mais.
Então, tomamos isto como um grande desafio e, é claro, contamos com aqueles que simpatizam com o tema.
Nos últimos quinze anos, temos acompanhado a trajetória de um grande número de cicloviajantes, que em quase sua totalidade, relatam a emoção das descobertas associadas tanto às paisagens quanto às cultura das localidades visitadas.
Quando falamos em cultura, queremos traduzir aqui todo o fazer humano recoberto de sentido. Então, seja na sonoridade da fala e do sotaque, seja nos detalhes das construções ou na gastronomia típica, no cicloturismo é uma aprendizagem constante.
No artesanato e na indumentária, enfim, a cultura estará sempre presente e dando significado ao que tencionamos conhecer. Ao cicloviajar estamos diante daquilo que caracterizará determinado povo e sua história, em essência.
Como cicloturistas que queremos ser, damos certo grau de importância às pessoas que encontramos pelos caminhos. São elas as peças de articulação da engrenagem chamada turismo (figurativamente), e é através do contato com elas que se darão as experiências que tornarão inesquecível aquele cicloroteiro.
Acessando o que está por dar-se conhecer
Pelo cicloturismo podemos acessar determinadas comunidades que ficam localizadas fora do eixo tradicional de estradas de rodagem preferidas pelos automóveis.
Ao mover-nos de bicicleta por estradas vicinais estamos mais próximos, por exemplo, de uma vindima (época de colheita da uva), do processo de obtenção do vinho e da cultura que o envolve lá nos Caminhos de Pedra de Bento Gonçalves – RS.
Ou, quem sabe, possamos experimentar o Queijo Canastra na serra de mesmo nome, que tem um similar em outra parte do mundo, próximo à linda cidade de Viseu, na localidade de Serra de Estrela – Portugal.
Imagine, ainda, ter a possibilidade de assistir a produção de peças ornamentais do artesanato jujeño, em Tilcara e Uquía, na Quebrada de Humauaca, representando a Pachamama e o cotidiano daquela gente querida de Jujuy – Argentina.
Enfim, nestes espaços de aprendizagem constante, o viajante silencioso (cicloturista) interage com o lugar, sua gente, sua prática cotidiana, e aprende com isto.
Uma das tônicas das cicloviagens é, sem dúvida, a possibilidade de conhecer como acontece a vida do outro, e tratar de guardar estes conhecimentos em uma memória afetiva e vivencial de grande valor. Tudo isto colabora para que a viagem cicloturística também seja um momento especial de autoconhecimento, de aprofundar-se em si e até mesmo de redescobertas.
Mais uma vez, aprendizagem constante.
Há muito por descobrir
Silenciosamente, o cicloturista acede à comunidades produtoras de lichia com suas propriedades anticâimbras e antiobesidade; pode conhecer os lindos artefatos em entalhes de madeira de Treze Tílias – SC, por exemplo.
Um pouco mais além, verá os teares, degustará geléias e a melhor cracóvia feita no Brasil, na colônia ucraniana de Prudentópolis – PR. E muito mais adiante, poderá se encantar com as obras de arte feitas com capim dourado, como as que encontramos na região do Jalapão – TO. E, transcenderá qualquer objeção, ao realizar cicloturismo na costa sul de São Paulo, “mandalando” com nossa querida paratleta Jéssica Moreira.
Não há limites para as descobertas
No cicloturismo, não há limites para as descobertas e para a emoção! Enquanto se desenvolve a viagem cicloturística, ao olhar a paisagem, vamos acessando nosso repertório de conhecimentos.
De imediato, comparamos as imagens percebidas com aquilo que um dia aprendemos em casa, na escola ou lendo um livro de Guimarães Rosa, como Grandes Sertões: Veredas, por exemplo.
Ao cruzar com cidadãos rurais pelo caminho, lá no interior dos Campos Gerais ou perto do Parque Estadual de Vila Velha, ambos no Paraná, por vezes somos tentados a parar para tomar uma informação e, quem sabe, estender-nos em uns minutos de prosa. Aos poucos, vamos percebendo que nossa necessidade de conhecer é diretamente proporcional à necessidade do outro de dar-se conhecer.
É uma troca, que não precisa ser nem na mesma medida e nem na mesma espécie.
O conhecimento proporcionado pelo contato entre os diferentes, nestas circunstâncias cicloturísticas, estabelece um elo de afeto pela localidade, e, por conseguinte, aumenta o valor da experiência que almejamos.
Algumas regiões, dentro e fora do Brasil, já se encontram desenvolvidas e organizadas para receber os cicloviajantes. Portanto, conseguem proporcionar uma estada repleta de serviços e de contato com uma realidade diferente. Mas, a grande maioria dos lugares que poderão oferecer muito ao cicloturista ainda faz parte de regiões não preparadas para este perfil de turista.
Existe um sem-número de destinações pelo Brasil esperando pela formatação de roteiros cicloturísticos de maneira profissional, ainda assim é possível realizar uma viagem planejada e inesquecível na companhia da bike por estes trechos.
Na verdade, estes caminhos estão repletos de gente bacana e simples que também quer conhecer você e sua história. Basta escolher seu destino, planejar a viagem e colocar-se em marcha.
O cicloturismo, é sem dúvida, uma aprendizagem constante.