Cesar e Regina Stella têm o cicloturismo na alma. Casados há 36 anos (ele, 58, ela, 56), este querido casal de cicloturistas têm muito para contar quando o assunto são as cicloviagens e as experiências promovidas por este estilo de estar no mundo. Mais do que percorrer caminhos, eles os vivenciaram, viveram cada segundo e cada centímetro percorrido com a alegria inata das crianças quando descobrem horizontes.
Vale dizer desde o início deste texto que Cesar e Regina conquistam novos amigos com sorrisos, simplicidade e generosidade, usando suas bicicletas para alcançar seus sonhos, novos cenários e gente para guardar no coração.
Generosidade imediata quando pedimos a eles que nos cedessem um texto contando sobre sua trajetória no cicloturismo; simplicidade emocionante quando se revelaram tão acessíveis como se tivéssemos pedalado juntos por anos; e sorrisos porque é assim que se manifestam e se comunicam.
Dá para entender quando indicamos que Cesar e Regina têm cicloturismo na alma, com certeza!
Eis o que nos enviaram com muito Amor fraterno e que agora dedicamos aos que, com nós, são apaixonados pelo Cicloturismo. A Regina nos conta como foi. Vamos lá?
“Como quase todo ser humano normal, tivemos bicicletas quando crianças, mas com o tempo elas foram sendo esquecidas em um depósito qualquer nos fundos das casas onde morávamos. O tempo passou, crescemos, nos casamos, tivemos filhos e levávamos nossa vida trabalhando, criando filhos e passeando como fazem a maioria das pessoas. O reencontro com a bike foi em 2007, quando o Cesar foi convidado por um amigo a começar a pedalar, após ser acometido de um mau súbito.
A princípio eram apenas pedais curtos e urbanos ou desafios, como costumavam se chamar. O primeiro desafio foi um percurso de 100 km de speed realizado em uma rodovia no interior de São Paulo. Nesta época, eu não tinha bicicleta e fazia apenas o apoio para esses eventos. Não demorou muito e, no mesmo ano, ganhei minha bicicleta para começar a pedalar também.
Pedalávamos e fazíamos pequenas viagens com o CAB (Clube de Amigos da Bike) em São Paulo. No início, era muito difícil para mim, a bicicleta era ruim, doía tudo, tinha que parar diversas vezes para beber água, tomar fôlego e continuar, mas no final era sempre uma delícia. Devo aqui fazer um parêntese para informar que isso tudo estava acontecendo em um momento que já tínhamos os filhos criados e, parcialmente, encaminhados na vida. Eu tinha 45 e o Cesar, 47 anos.
Em Abril de 2008, tivemos nosso primeiro contato com o Cicloturismo, numa viagem de São Paulo a Registro organizada pelo CAB – Clube de Amigos da Bike. Éramos 11 pessoas, quatro organizadores e os sete restantes novatos empolgados. E lá fomos nós, totalmente sem experiência nos aventurar pelas rodovias e estradinhas de São Paulo. Expandir as fronteiras do município já era um grande feito, principalmente por perceber que, enquanto pedalávamos pelo acostamento, uma imensa fila de carros na estrada se fazia devido ao feriado prolongado. Sentíamo-nos muito bem com isso, principalmente em saber que éramos movidos apenas a arroz com feijão e água, poluição quase zero e um custo mínimo.
Começava aí um grande aprendizado de como viajar em grupo, foi uma experiência e tanto. Conhecemos, neste mesmo ano, o Clube de Cicloturismo do Brasil através das palestras que ocorriam mensalmente no SESC, em São Paulo. O interesse pelas viagens autônomas foi crescendo cada vez mais. Era um novo mundo que se apresentava para nós.
Participamos, então, do VII Encontro de Cicloturismo, em Camboriú/SC , e foi aí que tivemos a certeza que era realmente o que queríamos para nós. Neste ano, ocorreu uma das maiores enchentes da história em Santa Catarina e estávamos lá presenciando tudo ao vivo. Eram 125 pessoas de diversos estados reunidos em alojamento e hotel na região, todos dispostos a tudo para ajudar as pessoas da cidade que chegavam procurando por um abrigo. É no momento do perrengue que você conhece verdadeiramente as pessoas. Lá fizemos amizades preciosas que conservamos até hoje.
Ficamos tão empolgados com a generosidade e companheirismo das pessoas que não tivemos dúvida em voltar dois meses depois para fazermos o Circuito Vale Europeu, que ainda estava em fase de reorganização. Haviam ainda barreiras caídas, casas abandonadas, rios que mudaram de curso, mas havia também um povo muito dedicado à reconstrução de suas próprias histórias. Daí para frente, todo ano fazíamos o que chamávamos de uma grande viagem: de 15 a 20 dias (era o que tínhamos de férias…) e pedalávamos nos feriados e finais de semana, também.
O tempo foi passando, os filhos saíram de casa para constituir família e ganhar a vida e nós, com a chegada da aposentadoria, pudemos sair para ganhar o mundo. E foi assim que fizemos nossa primeira viagem de três meses, em 2015, de Roma a Lisboa. Foi uma viagem incrível passando pela Itália, França, Espanha e Portugal. Gostamos tanto do formato 3 meses que, no ano seguinte, fomos para a Patagônia, desde Bariloche até Ushuaia.
Nesta viagem para a Patagônia, de uma forma mais concreta, tivemos muitos encontros com “anjos da estrada”, esses que aparecem na hora exata para te direcionar e proteger. Os anjos se apresentaram em diversas formas, mas as inesquecíveis foram aqueles em forma de cães, que nos acompanhavam por quilômetros, e o anjo borracheiro gordinho que me vestiu um colete refletivo para andar na rodovia, foi muito especial.
O trekking também foi introduzido nesta viagem, já que os locais visitados proporcionavam essa nova experiência; deixávamos as bikes guardadas e partíamos para as montanhas, entre elas Cerro Castillo, Fitz Roy, Torres Del Paine e, para fechar com chave de ouro, o trekking Dientes de Navarino, em Puerto Williams / Chile. Neste ano, 2018, voltamos a Portugal, e fizemos uma viagem de norte a Sul sem pressa, conhecendo o Alentejo, o Algarve e a Costa Vicentina.
Foi uma surpresa em cada lugar: os aromas, os vinhedos, as oliveiras, as roseiras (que faziam parte de todo quintal português), as lindas praias nas falésias , o canto interminável dos pássaros, as aldeias escondidas nas montanhas, seus diversos castelos e fortificações, além de um povo que conhece e tem orgulho da sua própria história.
Tudo isso é encantador e nos movimenta a procurar novos destinos para uma cicloviagem. Tem um mundo lindo e enorme exatamente do lado de fora da nossa casa: é só abrir a porta e partir, os ingredientes principais nós temos de sobra: vontade e disponibilidade.
Bem, acho que antes de terminar este relato nós talvez já tenhamos pensado na próxima cicloviagem, mas caso não aconteça, uma coisa temos certeza, em breve estaremos partindo para algum lugar e as bikes serão nosso meio de transporte.
Não há como explicar as sensações e experiências que uma cicloviagem nos traz, mas podemos dizer que foi a melhor coisa que aconteceu em nossas vidas, pois, além de trazer saúde, traz a paz e a alegria de podermos vivenciar a natureza e conhecer a simplicidade das coisas de uma forma muito especial e duradoura”.
Nós, da equipe Ciclotur Experience, nos juntamos aos incontáveis cicloturistas que os têm como inspiração e agradecemos por serem exatamente o que são. Um fraterno abraço e muito obrigado por tudo!
Quer conhecer mais?
Canal no Youtube: Regina Stella
Facebook: @queropedalar.cicloviagens
Instagram: Quero Pedalar
Acesse: Quero Pedalar Cicloviagens