Cicloturismo em Humahuaca, Argentina

Foi incrível a sensação de fazer cicloturismo por Humahuaca – Província de Jujuy – Argentina.

Aproveitando que estava a fazer cicloturismo desde Foz do Iguaçu, junto à Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, até as Grandes Salinas, em uma viagem de bicicleta de 30 dias, Humahuaca era uma localidade que gostaria muito de conhecer.

Pessoalmente, além das paisagens naturais, encontrar os diferentes matizes culturais causou grande impacto em meus horizontes.

Subi pedalando a Ruta 9, em direção à linda província de Jujuy, no verão de 2006.

É lindo perceber a paisagem mudar a cada metro. Imaginava, então, o quanto mudariam as características do povo e sua cultura.

Imensidões da Puna Jujeña – Argentina – Foto: Therbio Felipe / Ciclotur Experience

Humahuaca, uma grande surpresa

Depois de desfrutar das localidades de San Salvador de Jujuy, Yala, Maimara, Tilcara, Huacalera e Uquía, percebi que, nesta direção, poderia chegar tranquilamente à Bolívia.

Mas, havia logo à frente a impressionante Quebrada de Humahuaca, um cânion gigantesco, imponente, que destaca o vale do Rio Grande.

Este lugar é Patrimônio Mundial da UNESCO desde julho de 2003.
Então, próxima parada: fazer cicloturismo em Humahuaca!

Therbio Felipe e Tássio Franchi em Humahuaca – Foto: Therbio Felipe / Ciclotur Experience

O cicloturista encontrará Humahuaca localizada a 3.000m de altitude e distante, aproximadamente, 1.500 km de Buenos Aires.

Esta histórica localidade do noroeste argentino é composta de vielas e ruas estreitas de terra ou pedra.
Nelas, é fácil sentir o cheiro de chipa (pão ázimo) sendo assada em uma grelha na calçada.
É um convite aos sentidos.

Na época desta cicloviagem, minhas fotos ainda eram feitas em uma câmera Zenith usando rolo de filme.
Portanto, isso me possibilitava ter mais tempo para admirar as gentes e seu modo de vida.

Crianças na praça de Humahuaca – Foto: Therbio Felipe / Ciclotur Experience

Um lugar, muitos significados

A palavra Humahuaca tem sua origem em uma das muitas culturas ancestrais originárias daquela região, os omaguacas.

Porém, o significado do nome é “Rio Sagrado”, antigo símbolo daquilo que só muda para seguir sendo o mesmo, segundo os locais.

Transitando pelas praças e vielas, se percebe nativos da etnia coya, fazendo comércio ou, simplesmente, visitando a cidade. Portanto, junto ao Cabildo, se encontra o ponto da aglomeração e de comércio informal.

Nativos comercializam artesanato na praça central.  – Foto: Therbio Felipe / Ciclotur Experience

Passado de luta, presente de hospitalidade

O lugar foi rota de grupamentos pré-incaicos e via de comércio entre o Rio de La Plata e Potosi, no sudoeste da Bolívia. Hoje, vive basicamente do turismo, e é um dos primeiros sítios cicloturísticos para quem chega ao país, através da Bolívia.

Para todo lado que se observe, há uma forte presença andina nos rostos e na indumentária.
Os lugareños, por sua vez,  são muito hospitaleiros, sorriem com facilidade sem faltar com o respeito.

Aliás, é bom alertar que se trata de um lugar turístico, mas nem por isto os habitantes deixam de ser educados.
Portanto, quando o turista não quer comprar o que oferecem, respeitam e ainda se despedem com um sorriso.

Jovem comercializa adornos na praça de Humahuaca – Foto: Therbio Felipe / Ciclotur

Monumento aos Heróis da Independência

Antes mesmo de seguir pedalando, vale dar uma recorrida a pé pela cidade.
Assim, se chega ao Monumento aos Heróis da Independência, erguido pelo artista Ernesto Soto Avendaño, na colina de Santa Bárbara.

A imagem em destaque é a do chasqui indígena Pedro Socompa, que leva a notícia da liberdade ao povo.

Colina Santa Bárbara e o Monumento aos Heróis da Independência – Foto: Therbio Felipe / Ciclotur Experience

As casas de adobe quadricentenárias estão por toda parte, algumas restauradas abrigando bares, cafés e hostels.

À noite, um espetáculo à parte quando lamparinas e lampiões, nas fachadas das casas, dão um toque sépia ao cenário. As pessoas, por sua vez, turistas ou não, estão às ruas, encantados pelo som de carnavalitos, com erke, charango e bombo leguero, instrumentos da musicalidade folclórica regional.

Crianças de todas as idades, então, se permitem cantar e brincar no mesmo espaço.

Hostel em Humahuaca – Foto: Therbio Felipe / Ciclotur Experience

Muitos motivos para fazer cicloturismo em Humahuaca

O cicloturismo em Humahuaca é um convite para deixar a cidade em direção ao mais rural dos interiores regionais.

Os caminhos que adentram a Quebrada singram por meio da ravina, deixando o cicloturista entre paredões e as trilhas que cruzam o Rio Grande inúmeras vezes.

A vontade que toma conta do cicloturista é de não parar de pedalar, a fim de ver tudo o que seja possível contemplar.

Na gastronomia, carne de lhama ensopada com ervilhas, humitas (tipo uma pamonha) e cazuela de cordero com papas, são algumas das opções para todos os bolsos e paladares.

Vista desde a Colina Santa Bárbara – Foto: Therbio Felipe / Ciclotur Experience

Dois dias se passaram em meio à interação com várias pessoas que buscavam, como nós, o melhor da cena jujeña. A energia cultural desta linda localidade faz crer que o turismo pode trazer benefícios plurais para a comunidade.

Mais que tudo, em nenhum momento, se sente insegurança, então, os cicloturistas são bem-vindos.
Neste aspecto, o Brasil tem que aprender muito com os países-irmãos latino-americanos.

Hora de deixar Humahuaca, porque é preciso seguir a cicloviagem. Desta vez, portanto, rumo sul pela Ruta 9, a fim de conhecer um pouco melhor Tilcara, seu festival de verão e seu Pucará.

Para saber mais, acesse: goo.gl/tb7smL